quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Cenários 02


Antes de qualquer coisa, queria dizer aos poucos que lêem este blog, que não postarei nenhum cenário sem antes mostrar algo que realmente valha a pena de ser lido.
Hoje é uma poesia de um bom escritor, que troca seus versos por moedas em um semáforo aqui perto de casa.
PELES (BLIMER – pelo vale caminha)

“Vestiram as peles
uma a uma
espíritos e corpos
de mãos dadas

O exorcista
de mal com a vida
de bem com a morte
faltou a terapia

O padre
de bem com a maldição
de mal com as virgens
sentia vertigens

DEUS
de bem com os folclores
de mal com os noticiários
acendia cigarros

O diabo
de mal com os vermes
de bem com os vivos
escrevia versículos

Vestiram as peles
uma a uma
espíritos e corpos
desocupados”


Cenários 02 criado em 02/12/2010, por Akeen dos Santos Julio

“Já são oito e meia, acho que iremos nos atrasar para peça.” Disse Zakwani.
A peça da qual ele se refere é “dedilhando rimas” de Akeen dos Santos Julio. Nela o autor retrata com 2 “personagens” o cotidiano de, de, de, de qualquer coisa, pouco importa. A peça não passa de mais um emaranhado de clichês sublinhado com a visão de jovens cantores.
- Não vamos não. Disse Zindzy. – Cortaremos pela Avenida Rio Branco.
Zindzy, talvez a personagem principal do que quer que seja isto aqui, nasceu vestida com as cores da terra, a luz da lua. Cintilante, atrai olhares, não somente de quem muito conviveu com o sexo dominante, mas também de jovens que ainda acreditam no amor.
“Façamos como quiseres, só não me culpe caso percamos o inicio que inspira o fim da arte.” Disse Zakwani.
- Às vezes me pergunto como vives assim, querendo entender tudo de tudo, não se deixando levar pela inocência do inesperado. Disse Zindzy.
- A inocência do inesperado, rss. Disse Zakwani que envolvido na prosa, não notou o rufar dos tambores baianos, que simboliza o inicio do espetáculo. – Também me surgem perguntas ao pensar em ti. Penso como podes ser tão poética em meio ao caos em que vivemos.
- Aonde tu vês caos, eu vejo a beleza abstrata do homem em conflito com a beleza divina. Todo esse pomar regado com muito ódio e amor. Disse Zindzy, que já sentia seu braço em harmonia com a musica, no passo a cada compasso.
Mal se passaram cinco minutos de inicio da “medíocre” peça e eles chegaram ao teatro. O melhor e mais conceituado teatro da capital, o teatro da Alfândega. Contudo ao ar livre, trazia nas poucas paredes que cercavam o palco, a cultura açoriana em mosaicos e graffites.
No palco estavam dois artistas – se assim posso dizer – vestido com roupas expressivas, como aquela que usam os drag queens – desculpem-me eles são artistas. Criadores de uma arte moderna, contemporânea – mas sem chamar atenção. Já estão contracenando. Portam microfones e vivencias. Retratam realidades e incoerências. No palco, mostrando o poder das palavras, brigão entre si entre palmas e vaias.
Este drama circense é algo que só descrevo aqui, porque tenho imunidade artística, pois senão jamais me atreveria. Mas voltamos à batalha em si.
A oratória de um dos artistas não condiz com o semblante do oponente, que desdenha dos versos de seu adversário. Um negro de Black Power a lá Jackson Five, faz uns movimentos complexos sobre um disco de vinil intitulado “Tim Maia Racional”. Temos um vencedor e o fim do espetáculo.

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